Um impulso à
Individuação!
Nas palavras de C. G. Jung
Citações Comentadas
"A individuação, em geral, é o processo de formação e particularização do ser individual e, em especial, é o desenvolvimento do indivíduo psicológico como ser distinto do conjunto, da psicologia coletiva."
...
"Uma vez que o indivíduo não é um ser único, mas pressupõe também um relacionamento coletivo para sua existência, também o processo de individuação não leva ao isolamento, mas a um relacionamento coletivo mais intenso e mais abrangente."
A individuação é um processo de diferenciação que impulsiona o desenvolvimento da personalidade individual; trata-se de uma necessidade inerente ao ser humano em seu desenvolvimento psicológico, tal como acontece igualmente no corpo biológico. Todavia, Jung chama a atenção para o fato de que o processo de individuação não leva ao isolamento do indivíduo, mas sim a “um relacionamento coletivo mais intenso e mais abrangente”, tendo em vista que a necessidade de envolvimento coletivo também é inerente à existência humana, não sendo os indivíduos auto-suficientes no sentido de dispensar a vida coletiva. Assim, a individuação faz com que o indivíduo participe da coletividade de forma mais autêntica e útil, manifestando-se com suas peculiaridades inatas. Pode parecer que a individuação está em oposição à norma coletiva, já que se trata de uma “separação e diferenciação do geral e formação do peculiar”. Todavia, conforme Jung bem esclarece, na verdade essa manifestação individual não está contra a norma coletiva, sendo apenas um outro modo de viver. E explica sabiamente: "Em hipótese alguma, pode a individuação ser o único objetivo da educação psicológica. Antes de tomá-la como objetivo é preciso que tenha sido alcançada a finalidade educativa de adaptação ao mínimo necessário de normas coletivas: a planta que deve atingir o máximo desenvolvimento de sua natureza específica deve, em primeiro lugar, poder crescer no chão em que foi plantada. OC 6, §853
"Uma psicologia que satisfaz unicamente ao intelecto jamais é praticável, pois o intelecto por si só nunca será capaz de abranger a totalidade da alma. Quer queiramos, quer não, mais cedo ou mais tarde o fator cosmovisão terá que ser levado em conta, porque a alma está em busca de expressão de sua totalidade."
Essas duas frases encerram o livro Psicologia do Inconsciente das Obras Completas de Jung (OC 7/1, 24 ed, Palavras Finais), resumindo perfeitamente bem a importância que ele dá ao estudo mais profundo da psique/alma que, em sua visão, busca a todo custo se expressar em sua totalidade, e não só em seu lado racional (razão, intelecto, consciente). Desse modo, Jung entende que a Psicologia precisa também levar em conta a dimensão irracional (intuitivo, instintivo e arquetípico, inconsciente) da vida humana; bem como, de modo mais amplo: a "função reguladora dos contrários". Isso porque: "A plenitude da vida tem normas e não as tem, é racional e irracional" (§72) ... e mais adiante: "Não devemos nos identificar com a própria razão, pois o homem não é apenas racional, não pode e nunca vai sê-lo. Todos os mestres da cultura deveriam ficar cientes disso. O irracional não deve e não pode ser extirpado" (§111).
"Os sonhos contêm imagens e associações de pensamentos que não criamos através da intenção consciente. Eles aparecem de modo espontâneo, sem nossa intervenção e revelam uma atividade psíquica alheia à nossa vontade arbitrária. O sonho é, portanto, um produto natural e altamente objetivo da psique, do qual podemos esperar indicações ou pelo menos pistas de certas tendências básicas do processo psíquico. Este último, como qualquer outro processo vital, não consiste numa simples sequência causal, sendo também um processo de orientação teleológica. Assim, podemos esperar que os sonhos nos forneçam certos indícios sobre a causalidade objetiva e sobre as tendências objetivas, pois são verdadeiros autorretratos do processo psíquico em curso."
Jung esclarece a forma como os sonhos se manifestam enquanto atividade psíquica que independe da vontade consciente do indivíduo, sendo assim uma manifestação natural do inconsciente. Por isso, no tratamento analítico, a análise dos sonhos é uma ferramenta muitíssimo importante para a compreensão do funcionamento psíquico dos pacientes. (OC 7/2, §210)
"A natureza não poderia existir sem a sua substância, mas certamente também não existiria se não fosse refletida na psique."
Essa frase finaliza o vol. 3 – Psicogênese das Doenças Mentais – da obra coligida de Jung, na qual ele discorre sobre a origem psicológica dos transtornos mentais, mais especificamente das neuroses e esquizofrenias.
Jung atuou por mais de 50 anos como psicoterapeuta, analisando centenas de casos de distúrbios da mente humana e sempre defendeu a causalidade psicológica de tais transtornos psíquicos; sem, contudo, deixar de apontar a possibilidade de alterações orgânicas (patologias cerebrais, toxinas etc.) como causa de certas doenças, como na esquizofrenia grave, por exemplo. Jung foi um dos pioneiros a defender a importância do entendimento psicológico (psicologia do inconsciente) no campo dos tratamentos psiquiátricos, numa época na qual ainda havia um grande abismo entre a consideração dos aspectos orgânicos dos fenômenos psíquicos (o cérebro) e de seus aspectos psíquicos “não palpáveis” (a mente). Assim, ele explana seu pensamento:
“Embora nosso estágio atual de conhecimento não nos forneça uma ponte capaz de ligar as duas margens – isto é, a natureza visível e palpável do cérebro e a aparente insubstancialidade das formas psíquicas – possuímos a certeza inabalável da existência de ambas. Esta certeza talvez possa resguardar a pesquisa da negligência de um dos aspectos, seja por pressa ou impaciência, ou ainda da pretensão de substituir uma pela outra. A natureza não poderia existir sem a sua substância, mas certamente não existiria se não fosse refletida na psique.”
(OC 3, § 584)
"O que mais impede novos progressos na adaptação psicológica é o apego conservador ao antigo, ou seja, às atitudes primitivas. O homem não pode simplesmente conservar inalteradas sua personalidade antiga e seus objetos de interesse do passado, caso contrário sua libido estagnaria no passado, o que seria um empobrecimento para ele."
No decorrer do desenvolvimento da personalidade, o indivíduo precisa abrir mão de suas atitudes antigas (fantasias e hábitos infantis), a fim de dirigir sua libido para as tarefas atuais de adaptação à realidade. Desse modo, o movimento regressivo se encerra na medida em que a libido vai sendo canalizada para as atividades que a vida demanda no presente, consumindo-se na solução das obrigações reais, deixando de reativar as fantasias. Em última instância, no pensamento de Jung, um distúrbio psicológico seria “um ato de adaptação que fracassou”.Razão pela qual no processo psicoterapêutico é importante investigar, por exemplo, quais obrigações atuais o(a) paciente não quer cumprir, quais as dificuldades que vem tentando evitar; quais as tarefas de adaptação ele(a) precisa executar no momento presente...(Frases de Jung extraídas da OC 4, §350)Para saber mais, blog/regressão da libido e etiologia dos conflitos psicológicos.
"Os complexos constituem os componentes fundamentais da disposição psicológica em toda estrutura psíquica."
Então... conhecer bem os nossos complexos, através das manifestações do inconsciente, é essencial para compreendermos as tendências psicológicas que apresentamos.
Isso é AUTOCONHECIMENTO em profundidade!
Quando se trata de um complexo negativo, a psicoterapia ajuda a liberar a energia (libido) “presa”/associada ao complexo, tornando-a disponível para a adaptação do indivíduo na realidade da vida.
Isso é LIBERDADE em seu sentido psicológico!
"Tudo é produto do passado e carrega um futuro, e nada pode ser considerado como sendo apenas um fim, pode ser também um começo."
Em outras palavras... O funcionamento psíquico tem aspectos decorrentes do passado, mas também tem por finalidade a realização de algo no futuro!
Há várias explicações para os processos psicológicos! Segundo Jung, os processos psíquicos podem ter diversas explicações verdadeiras, fornecidas por teorias até mesmo contraditórias, tantas quanto forem os tipos psicológicos dos teóricos que as formulam! Na citação, Jung se refere às explicações redutiva (que busca a causa no passado) e construtiva (que busca sua finalidade) dos processos psíquicos. Deixa claro que sua psicologia analítica vai além das teorias redutivas, pois tem por característica ser prospectiva ou finalística, buscando explicar os fenômenos psicológicos através de sua finalidade inerente. Jung aponta ainda: “No caso de uma teoria psicológica, a necessidade de maior número de explicações é algo decisivo, pois, ao contrário de qualquer teoria das ciências naturais, o objeto da explicação é, na psicologia, da mesma natureza que o sujeito: um processo psicológico deve explicar o outro.” Jung - OC 6, §928.
"O autoconhecimento é uma aventura que conduz a amplidões e profundezas inesperadas."
Iniciar um processo de autoconhecimento é como se fosse uma aventura! Precisamos estar abertos a descobertas inesperadas, que tanto podem se referir a fragilidades e negatividades, como também a potencialidades (forças, talentos...). Jung diz que quanto mais a gente se "aprofunda" no inconsciente mais a dimensão se amplia; ou seja, não se trata de um "afunilamento", mas sim de uma ampliação sem fim! Uma eterna aventura!