Um impulso à
Individuação!
Psicoterapia Junguiana
A metodologia analítica
Você pode estar se perguntando:
Como é a psicoterapia na abordagem junguiana?
O que ela tem de diferente das outras abordagens psicoterapêuticas?
Quais são as técnicas e os recursos utilizados?
O que é a Individuação? Etc...
A curiosidade já é um bom começo! 👀
A psicoterapia junguiana, desenvolvida por C. G. Jung, é uma das abordagens terapêuticas da chamada Psicologia profunda, no sentido de que leva em consideração a dimensão inconsciente e não somente os processos mentais conscientes. Assim, a “profundidade” diz respeito a essa característica de adentrar numa dimensão mais interna da psique do indivíduo, o inconsciente.
O inconsciente é sempre retratado nos cursos através daquela famosa imagem de um iceberg no oceano, em que apenas uma pequena parte fica à vista, enquanto sua maior parte fica submersa em águas profundas... essa imagem nos causa logo um impacto por indicar visualmente a enorme proporção de conteúdos desconhecidos (ou ocultos) em nossa psique!
E sabemos que são esses conteúdos que na verdade impulsionam nossas vidas! Chocante, não?!!
Portanto, a primeira particularidade de nossa metodologia psicoterapêutica é exatamente essa: promover o AUTOCONHECIMENTO (= conhecer a si mesmo de forma integral), referindo-se ao Ser como um todo: aspectos conscientes e inconscientes! Para tanto, vamos buscar conhecer alguns desses conteúdos até então ocultos; vamos investigar junto com o (a) paciente o que se passa em seu mundo interno, quais são os seus complexos que vêm se manifestando como pensamentos, sentimentos e/ou comportamentos mal adaptativos na vida cotidiana.
Na teoria junguiana, os complexos formam os conteúdos do inconsciente pessoal, como agrupamentos de lembranças, fantasias, imagens e pensamentos, capazes de causar perturbações na consciência do ego quando ativados em determinados momentos. É como um grupo de ideias e imagens com forte tonalidade emocional que se aglomeram atrativamente tendo por núcleo uma imagem arquetípica, manifestando-se em nossas vidas, por exemplo, em distúrbios tais como ansiedade ou depressão sem causa aparente.
De modo que a meta da psicoterapia junguiana é tornar os complexos pessoais mais conscientes, liberando assim a energia contida (aprisionada) neles; uma vez que essa energia liberada ficará disponível para o engajamento mais criativo do indivíduo em seu desenvolvimento psicológico (= individuação).
Assim, percebemos que os complexos pessoais emergem da dimensão inconsciente pessoal mediante a sua interação com uma dimensão ainda mais profunda da psique: o inconsciente coletivo, onde contatamos as imagens arquetípicas que estão na raiz dos complexos.
~ ver Blog: Complexos e Arquétipos ~
Nosso trabalho psicoterapêutico tem também por objetivo a chamada integração da SOMBRA; termo que muitos já devem ter ouvido falar! A “sombra” é uma expressão que designa todas as nossas tendências, características de personalidade, lembranças traumáticas, fantasias e pensamentos indesejados etc., que não são aceitos pelo Ego (consciente) de bom grado e, assim, são deixados “escondidos” de nossa consciência. Integrar aqui significa conhecer, aceitar e fazer alguma coisa de positivo com essa parte nossa, passando a viver com maior autenticidade, e não necessariamente passar a viver de acordo com seus ditames! Porque é exatamente isso que acontece quando são mantidos apartados da consciência: tais conteúdos acabam influenciando de certa forma nossos destinos, impulsionando de forma intrusa e secreta nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos.
Além da Sombra – um dos arquétipos principais na teoria junguiana –, podemos também analisar outros arquetípicos importantes para o desenvolvimento psicológico, como Persona, Anima e Animus, bem como outras figuras arquetípicas que por ventura se manifestam na personalidade.
Já vai se tornando mais claro que para Jung a PSIQUE é constituída por todos esses aspectos da personalidade (conscientes e inconscientes), sendo a LIBIDO a própria energia psíquica.
Ora! Sabemos que a psique é um sistema autorregulador, que está sempre buscando manter o equilíbrio em seu funcionamento interno (lembre-se que a cisão/interrupção ou a estagnação no movimento dessa energia se manifesta em nossa vida externa como doença ou desequilíbrio).
Assim, podemos concluir que será a própria psique do indivíduo que irá promover aquilo que se deseja com a psicoterapia, quer seja uma melhoria em algum aspecto da personalidade, uma mudança de comportamento não adaptativo, a remissão de algum sintoma, o reequilíbrio na expressão da vida etc.
Tudo isso faz muito sentido! Desse modo, o que o processo terapêutico irá fazer é ajudar o (a) paciente a entrar em contato com esse mundo interno, ampliando sua percepção acerca de si mesmo, e a estabelecer uma relação – ou diálogo – entre suas “partes” externas e internas, entre nosso Ego (centro da consciência) e o Self (centro da totalidade psíquica). Podemos dizer que o Self é o núcleo arquetípico que simboliza a integralidade, somente acessível pelo contato como inconsciente profundo. Como já mencionado na página inicial, chamamos esse processo de fazer a ponte do eixo -self. Uma vez esse diálogo estabelecido, as transformações necessárias ao amadurecimento psicológico, ou seja, ao próprio processo de individuação, são potencializadas.
Para tanto, no processo psicoterapêutico prestamos atenção aos símbolos que vão surgindo na vida do indivíduo. Esse fenômeno também é conhecido por “função transcendente”, que significa “vir a termos” com o inconsciente, ou melhor, estabelecer uma troca (e não estabelecer um ‘confronto’ com ele!) ou uma relação dialética. Desse modo, podemos considerar a função transcendente o processo psíquico de união dos opostos; ou, ainda, que resulta da união dos conteúdos conscientes e inconscientes.
Nesse ponto, é importante deixar claro que se trata de uma abordagem sintética, a consciência (dimensão consciente) não deixa de ser também levada em consideração no tratamento analítico! Essa abordagem psicoterapêutica não visa somente fazer com que os conteúdos inconscientes se tornem conscientes. O que se objetiva, na verdade, é entrar em contato com os conteúdos inconscientes permitindo que haja uma influência mútua e contínua entre consciente e inconsciente. É assim que o processo de individuação vai acontecendo.
Ademais, nós nunca vamos poder acessar o inconsciente de forma direta, mas sim através de suas manifestações (na consciência!). Portanto, o interesse da psicoterapia junguiana é nessas manifestações do inconsciente que se dão na consciência. É sobre essa relação entre consciente e inconsciente (método dialético) que Jung tanto se debruçou em sua psicologia analítica! A individuação é, em última instância, o desenvolvimento da consciência; seu florescimento, sua expansão, ou o termo que preferir...
Agora é hora de apresentar alguns dos recursos terapêuticos utilizados durante o tratamento analítico... informando, para quem tem essa curiosidade, que a psicoterapia é realizada frente a frente e não é utilizado divã (como na abordagem psicanalítica), uma vez que o método dialético de Jung também se configura na própria relação terapêutica entre o analista/psicoterapeuta e o (a) paciente.
Análise de sonhos
Para a teoria junguiana, os sonhos retratam a vida psíquica do indivíduo, sem pretender disfarçar conteúdos indesejados ou renegados pela consciência (ego), ilustrando de forma simbólica-metafórica o que se passa no seu mundo interno. Além disso, para Jung os sonhos também possuem um papel importante no desenvolvimento psicológico do indivíduo, ou seja, tem uma função teleológica, na medida em que agem como potenciais elementos da função transcendente. Por exemplo, através da adequada análise de um sonho um símbolo pode se fazer presente realizando a sua função transformadora na vida do paciente.
Dessa forma, os sonhos e fantasias são considerados formas de manifestação do inconsciente, como mensagens oriundas dessa dimensão profunda da psique; razão pela qual a análise dos sonhos e fantasias dos pacientes é uma ferramenta-chave no processo de psicoterapia.
Assinalando que na prática clínica, o trabalho com os sonhos e fantasias não se dá pela mera interpretação literal do conteúdo onírico, mas sim por meio da análise das associações simbólicas que vão sendo feitas no momento da sessão, fornecendo significado aos seus conteúdos.
A compreensão simbólica é, portanto, fundamental!
[Blog/A análise de sonhos e fantasias: ferramenta-chave na psicoterapia junguiana]
Utilização de recursos expressivos
Durante o processo terapêutico podemos utilizar também alguns recursos expressivos, tais como desenho, pintura, modelagem com argila, colagem de imagens, produção de poesias etc., por considerar que através da expressão criativa conteúdos do inconsciente ficam mais acessíveis à consciência; sendo, inclusive, uma boa ferramenta para pacientes com maior dificuldade de expressão emocional. Tais recursos facilitam a expressão de nossos pensamentos e sentimentos.
"A personificação é uma ferramenta terapêutica desenvolvida por Jung que facilita o estabelecimento de um diálogo relacional ao tratar os diferentes lados do self como 'pessoas psíquicas'. Ao atribuir consciência e autonomia às emoções e comportamentos do adolescente no nível imaginal, temos acesso às imagens que orientam e dão forma à sua experiência do mundo. Para isso, a personificação se vale das artes (pintar, contar histórias, modelar em argila, escrever poemas como forma não discursiva de permitir que essas imagens se revelem." (Richard Frankel - A psique adolescente)
Imaginação Ativa e Imaginação Dirigida
A imaginação ativa é um recurso terapêutico que foi desenvolvido por C. G. Jung para estabelecer um diálogo entre o Eu-consciente e os aspectos da psique inconsciente. É praticada para fins de transformação da psique por meio da função transcendente a qual decorre do encontro com as imagens internas que impulsionam nossa vida. Valendo salientar que por “imagem” entendemos não somente o pictórico, mas sim tudo aquilo que nos mobiliza (uma ideia, um sentimento, etc.). Jung observava os SONHOS (frutos da atividade psíquica durante o sono) e as FANTASIAS (frutos da atividade psíquica em vigília) como expressões simbólicas dos nossos complexos, utilizando-se da técnica da imaginação ativa para acessar as imagens simbólicas de tais conteúdos, tornando-a uma das principais ferramentas da análise/psicoterapia. Trata-se de uma prática de imaginação realizada mediante a livre introspecção, ou seja, sem o direcionamento do psicoterapeuta. Desse modo, nosso papel será de estimular essa imaginação no (a) paciente, essa relação com suas imagens internas, orientar sobre como preparar a introspecção necessária e de estar junto e atento ao processo dialético que vai acontecendo.
Por sua vez, a imaginação dirigida (ou guiada) é uma técnica de imaginação realizada com o direcionamento verbal do psicoterapeuta, tendo por foco (objetivo) as questões que estão sendo analisadas com o paciente. A imaginação dirigida, igualmente, visa o acesso a imagens internas, sendo ambas (IA e ID) técnicas com as quais se busca a interação entre consciente e inconsciente; mas, na imaginação dirigida não há o diálogo ou “confronto” do Ego com os conteúdos emergentes (inconsciente), como ocorre na imaginação ativa. Podemos dizer que a principal diferença é que a imaginação ativa é alcançada pela livre introspecção do paciente, enquanto que a imaginação dirigida é realizada mediante fantasias orientadas e direcionadas pelo psicoterapeuta. Na imaginação dirigida, o psicoterapeuta também intervém com as orientações acerca do processo (técnicas de relaxamento, preparação do ambiente adequado etc).
Avaliação do tipo psicológico
A avaliação tipológica da personalidade também pode ser útil no processo psicoterapêutico, haja vista que, conforme já pontuado, a consciência é parte fundamental no desenvolvimento psicológico do indivíduo; desse modo, conhecer o funcionamento consciente da psique é tão importante quanto o manejo dos conteúdos inconscientes. Para isso, utilizamos o questionário de avaliação tipológica QUATI que foi desenvolvido com base na teoria dos tipos psicológicos de Jung.
Em face da diversidade humana, a tipologia junguiana busca classificar as semelhanças e diferenças existentes em determinados grupos de pessoas. Para tanto, a tipologia busca assinalar qual a atitude básica do indivíduo (foco de atenção) – extrovertida ou introvertida – e quais as funções psicológicas de sua preferência – funções de percepção (sensação e intuição) e funções de julgamento (sentimento e pensamento), as quais definem, respectivamente, a maneira como o indivíduo prefere receber as informações do meio e a maneira como o indivíduo prefere avaliar as informações recebidas e tomar suas decisões. Assim, através do teste QUATI, podemos ampliar o AUTOCONHECIMENTO do indivíduo, avaliando seu funcionamento cognitivo e suas tendências comportamentais.